O impacto das redes sociais no cérebro de crianças e adolescentes tem despertado preocupações crescentes entre os pais. Surpreendentemente, estudos revelam que cerca de 74% dos pais não fazem uso de ferramentas de filtro para controlar o acesso de seus filhos a dispositivos eletrônicos, demonstrando uma grande lacuna no conhecimento e despreparo diante dessa questão complexa.
Essa falta de monitoramento e controle pode expor as crianças a riscos adicionais nas redes sociais, como o contato com estranhos e a exposição a conteúdos inapropriados para sua faixa etária. A ausência de uma supervisão adequada também dificulta a identificação de sinais de alerta relacionados ao bem-estar emocional das crianças, como cyberbullying ou assédio virtual. É fundamental que os pais estejam cientes dos perigos potenciais e adotem medidas proativas para garantir a segurança online de seus filhos.
Para abordar essa questão de maneira eficaz, é necessário um esforço conjunto de pais, educadores e responsáveis pela regulamentação das redes sociais. É preciso investir em campanhas de conscientização e educação que informem tanto os pais quanto as próprias crianças sobre os riscos e benefícios do uso das redes sociais. Além disso, é fundamental que as plataformas digitais implementem medidas de segurança robustas, como filtros de conteúdo, políticas de privacidade e sistemas de denúncia de abusos, a fim de criar um ambiente virtual mais seguro para as crianças.
Conteúdo
Pesquisadores do Passado
B.F. Skinner, renomado psicólogo do século XX e principal expoente do behaviorismo, traz à tona importantes reflexões. Essa escola de pensamento psicológico enfatiza o estudo dos comportamentos observáveis em seres humanos e animais, considerando o ambiente como o principal determinante das ações. As teorias de Skinner continuam sendo amplamente estudadas e debatidas, pois evidenciam a influência do ambiente na modificação do comportamento humano.
Uma pesquisa intrigante, inspirada pelos princípios behavioristas, foi conduzida pelo professor Björn Lindström. Ele adaptou as condições da famosa “Caixa de Skinner” para o contexto das redes sociais, analisando a relação entre as curtidas recebidas por alunos em suas fotos e a frequência com que postavam conteúdo. Surpreendentemente, os resultados revelaram uma conexão semelhante entre os estímulos (curtidas) e o comportamento (frequência de postagem). Isso nos faz questionar como as redes sociais utilizam essas técnicas behavioristas de maneira sutil e inconsciente para influenciar nossos comportamentos.
A Neurociência Atual
Os impactos das redes sociais no cérebro das crianças não param por aí. Neurocientistas, como a Dra. Shimi Kang, alertam que o uso excessivo de dispositivos eletrônicos libera substâncias neuroquímicas que alteram a estrutura cerebral em desenvolvimento. Embora algumas tecnologias, como as videochamadas, possam trazer benefícios, outras criam ciclos viciosos de recompensa de baixo valor, levando as crianças a ansiarem por mais do mundo virtual do que do mundo físico.
Além disso, o constante acesso às redes sociais também pode contribuir para o desenvolvimento de problemas de saúde mental em crianças. Estudos têm demonstrado que o uso excessivo dessas plataformas está associado a um maior risco de ansiedade, depressão e baixa autoestima. A constante comparação com os outros, a pressão por likes e seguidores, bem como a exposição a conteúdos negativos e prejudiciais, podem desencadear uma série de problemas psicológicos nas crianças em fase de desenvolvimento.
Outro aspecto preocupante é o impacto das redes sociais na qualidade do sono das crianças. A exposição à luz azul emitida pelos dispositivos eletrônicos antes de dormir interfere na produção de melatonina, o hormônio responsável pelo sono. Como resultado, muitas crianças têm dificuldade em adormecer e experimentam distúrbios do sono, afetando seu bem-estar geral e seu desempenho acadêmico. A falta de sono adequado também pode levar a problemas de concentração e aprendizagem, afetando negativamente o desenvolvimento cognitivo das crianças.
Momento Crucial
O momento em que as crianças são apresentadas a essas tecnologias é crucial, pois estão em pleno desenvolvimento de sua capacidade de autorregulação. Essa habilidade de controlar emoções, comportamentos e pensamentos de forma eficaz é essencial para o bem-estar ao longo da vida. No entanto, as redes sociais e os dispositivos eletrônicos podem comprometer esse processo, colocando em risco o desenvolvimento saudável das crianças e adolescentes.
O uso excessivo de dispositivos eletrônicos também afeta a paciência e a resiliência das crianças. A era digital oferece uma infinidade de opções de entretenimento instantâneo, permitindo que as crianças encontrem facilmente satisfação em um clique. No entanto, a vida real não é tão imediata e repleta de opções infinitas. Ao criar uma mentalidade de gratificação instantânea, estamos privando as crianças da oportunidade de desenvolver resiliência diante dos desafios do mundo real.
Diante desse panorama preocupante, é imprescindível que os pais compreendam profundamente o impacto das redes sociais no cérebro de seus filhos e estejam preparados para orientá-los nesse universo virtual complexo. Estabelecer limites saudáveis, promover um equilíbrio entre o mundo online e offline e oferecer atividades que estimulem a autorregulação e a resiliência são medidas cruciais para mitigar os efeitos negativos e assegurar o desenvolvimento saudável das crianças e adolescentes na era digital. Afinal, cuidar da saúde mental de nossos filhos é um desafio que não pode ser subestimado em um mundo cada vez mais conectado.
Quer saber mais?
Ouça o nosso episódio em formato de podcast chamado “Como as Redes Sociais estão Mudando o Cérebro de Crianças e Adolescentes?” onde conversamos sobre os seguintes pontos:
- Mudanças Anatomicas no Cérebro de Crianças
- Novos Hábitos, Novos Caminhos no Cérebro
- Consequências dessas modificações
- ESTUDO DE CASO: Como o nosso cérebro reage aos vídeos “personalizados” do Tiktok?
Colaboram para o episódio *Camilla Mazetto* (Phd Psychologist na Williamsburg Therapy Group), Psicóloga clínica e Neuropsicóloga, Especialista em Crianças com transtorno do neurodesenvolvimento; *Dr. Eduardo Jorge* É médico e Coordenador da rede essemundigital.com.br, tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Neuropediatria.