No cenário da era digital em constante evolução, as tendências que moldam a vida dos alunos em 2024 refletem uma profunda mudança na forma como interagimos com a tecnologia. Três aspectos fundamentais destacam-se nesse panorama, delineando não apenas o presente, mas também o futuro de como as novas gerações consomem informações, se relacionam, e percebem o mundo ao seu redor.
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1) O Google está perdendo…para o Tiktok!
A expressão “Dá um Google” pode não fazer mais sentido nos próximos anos.
O TikTok, originalmente projetado como uma plataforma para compartilhamento de vídeos curtos, está desempenhando um papel surpreendente na vida da geração z. O que começou como uma ferramenta de entretenimento ganhou uma reviravolta notável, transformando-se em um motor de buscas preferido pelas novas gerações.
Enquanto o Google sustentou sua posição como o mecanismo de busca dominante por décadas, o TikTok conquistou a preferência dos usuários mais jovens. Segundo dados do Insider Intelligence, 51% dos usuários da geração z já estão preferindo buscar informações pelo Tiktok do que com o Google. Aparentemente, esta tendência está se acentuando para as gerações ainda mais novas.
Essa mudança é alimentada pela interface envolvente do TikTok e seus algoritmos de recomendação inteligentes. Esses elementos transformaram o TikTok em uma fonte central para a descoberta de conteúdo, onde a geração Z encontra informações, aprendizado e entretenimento de maneira mais eficaz, graças ao formato envolvente e ágil da plataforma. Ao invés de uma lista de textos e links, vídeos pessoais com informações rápidas fazem mais sucesso com alunos mais jovens. Essa transição sinaliza uma mudança significativa na dinâmica de busca de conteúdo online, desafiando os paradigmas estabelecidos até então.
Por que é importante?
Nós estamos testemunhando uma mudança profunda na forma como uma nova geração consome conteúdo e informações, especialmente por meio de plataformas de vídeos personalizados. Essas plataformas não apenas moldam a maneira como os jovens buscam e acessam informações, mas também têm impactos significativos na formação de suas perspectivas e opiniões.
Pesquisas recentes têm destacado uma preocupação crescente: crianças e adolescentes frequentemente têm dificuldade em distinguir entre conteúdos de propaganda e informações genuínas em plataformas como o TikTok. A interface envolvente e os algoritmos de recomendação podem resultar em uma experiência de consumo de conteúdo que carece de discernimento crítico, deixando os jovens mais suscetíveis a mensagens persuasivas, muitas vezes imprecisas ou até mesmo enganosas.
É crucial reconhecer que as informações transmitidas por outros usuários nestes vídeos personalizados podem não apenas carecer de precisão, mas também podem contribuir para a disseminação de desinformação. Sem um pensamento crítico sobre esses conteúdos, os estudantes correm o risco de serem influenciados por informações incorretas, afetando não apenas seu entendimento do mundo, mas também suas decisões e opiniões.
2) Tempo de Tela em Ascensão Constante
Após 6 anos do seu primeiro discurso onde apontava que tomaria providências contra o tempo que os jovens passam em mídias sociais e telas, Emmanuel Macron, presidente da França, retornou este ano dando ainda mais ênfase no assunto em seus discurso à nação francesa.
“Todo mundo vê que as crianças e adolescentes passam cada vez mais tempo diante das telas de telefones e computadores. Além disso, eu vejo as pesquisas que mostram os impactos disso. Muitos jovens só se informam pelas telas, o que dá espaço à pós-verdade, um perigo para a democracia e o risco do surgimento de uma geração de complotistas” disse Macron.
A preocupação é global.
Impulsionado por uma variedade de dispositivos e plataformas, os estudantes estão cada vez mais imersos no mundo digital. Seja para fins educacionais, entretenimento ou interações sociais, a barreira entre o mundo online e offline está se tornando cada vez mais difusa. Enquanto 70% das crianças entre 4-6 anos já pedem para os pais pelo primeiro celular (MobileTime, 2023), a geração z está chegando à vida adulta consumindo cerca de 10h40min de mídia por dia.
Apesar dos esforços recentes e discussão constante em nossa sociedade, essa tendência ainda não foi revertida. Além disso, essa tendência levanta preocupações sobre os impactos na saúde mental e física dos estudantes, exigindo uma reflexão sobre a necessidade de estratégias equilibradas de uso da tecnologia. As instituições educacionais e os responsáveis devem estar atentos para garantir que o tempo de tela não se torne prejudicial, mas sim uma ferramenta que enriqueça a vida dos estudantes.
Mas como fazer isso?
Desde o ano passado, estamos trabalhando com Escolar Parceira, levando Resiliência Digital para dentro das salas de aula.
Um dos nossos pilares pedagógicos se chama “Auto-Regulação” e busca levar o pensamento crítico aos alunos sobre o quanto eles utilizam de tecnologias e quais são seus possíveis impactos, seja na sua saúde física ou mental.
Seguindo um passo a passo pensado especialmente para esta faixa etária, nós buscamos desenvolver neles algumas aspectos como:
Compreender que nosso corpo nos envia sinais de fadiga quando precisamos fazer uma pausa no usoda tecnologia, assim como nos avisa quando estamos com sede ou fome.
Reconhecer que existem sinais internos (do nosso corpo) e sinais externos (do ambiente) que nos indicam a necessidade de dar um tempo nas telas.
Identificar exemplos de sinais externos, como solicitações dos pais, bateria do aparelho acabando e aparelho ficando muito quente, que indicam a hora de fazer uma pausa na tecnologia.
Observar a importância de estar atento aos sinais do corpo e do ambiente, a fim de equilibrar o uso da tecnologia com outras atividades e cuidar melhor de si mesmo.
Assim, nós contribuímos para o trabalho de prevenção contra incidentes virtuais dentro das escolas. Nossa iniciativa existe para que mais alunos como este existam e sejam ativos no uso ético das redes sociais e novas tecnologias.
Quer saber como levar nosso trabalho para sua escola? Clique-aqui.
3) Geração Z à Frente na Adoção de Inteligência Artificial
De acordo com uma pesquisa da Ofcom, 4 em 5 adolescentes (13-17 anos) já estão utilizando algum tipo de serviço ou ferramenta com Inteligência Artificial. Esse número é de 40% na faixa de 7-12 anos de idade. A IA generativa, que compreende algoritmos capazes de criar conteúdo novo em resposta a um estímulo, está sendo amplamente adotada por adolescentes e crianças.
Com ferramentas como ChatGPT, Snapchat My AI, Midjourney e Bing chat, as novas gerações estão explorando e integrando ativamente a IA em suas vidas diárias. O Snapchat My AI (um tipo de “amigo” de IA para o usuário), disponibilizado gratuitamente a todos os usuários do Snapchat em 2023, é particularmente popular entre as crianças e adolescentes, com metade dos usuários online de 7 a 17 anos utilizando a plataforma. Apesar de ainda não ser tão comum em nosso país, é apenas uma questão de tempo para se popularizar por aqui também.
Quais são os pontos de atenção?
O diretor de estratégia e pesquisa da Ofcom, Yih-Choung Teh, destaca a natureza rápida com que a geração Z se adapta à nova tecnologia, incluindo a generative AI. Ele enfatiza a importância de compreender as oportunidades e riscos associados a essas inovações, garantindo ao mesmo tempo a segurança dos usuários online.
Utilização de IA sem Conhecimento Crítico
Uma preocupação central é o uso indiscriminado da inteligência artificial pelos alunos, muitas vezes sem um entendimento crítico adequado. A rápida adoção da IA generativa pela geração Z pode resultar em uma utilização inconsciente e desinformada, onde os estudantes podem não compreender totalmente as implicações éticas e sociais associadas a essa tecnologia.
Riscos de Incidentes Tecnológicos
A utilização irresponsável da IA generativa dentro do ambiente escolar pode levar a uma série de incidentes tecnológicos. Desde a disseminação de informações incorretas até a criação de conteúdo inadequado, os riscos de incidentes tecnológicos aumentam quando os alunos exploram a generative AI sem uma orientação adequada.
Falta de Letramento em Inteligência Artificial
Um ponto crítico de atenção é a ausência de letramento em inteligência artificial nas práticas educacionais. Muitos alunos não estão recebendo a devida instrução sobre como entender, utilizar e avaliar a IA generativa. A falta desse letramento pode resultar em uma geração de usuários que não compreendem completamente as capacidades e limitações dessa tecnologia, comprometendo assim sua capacidade de utilizá-la de maneira responsável e crítica.
Diante desses pontos de atenção, torna-se imperativo desenvolver estratégias educacionais e de conscientização para garantir que os alunos estejam capacitados a utilizar a inteligência artificial de maneira informada e ética, minimizando potenciais riscos e maximizando os benefícios dessa inovação.
Fernando Lino
Especialista em Educação Tecnológica