Nos últimos anos, os videogames têm se tornado uma parte cada vez mais presente na vida de crianças e adolescentes. O que antes era visto apenas como uma forma de entretenimento, hoje é reconhecido como uma poderosa ferramenta de desenvolvimento. A Unicef, uma das principais organizações globais dedicadas ao bem-estar infantil, tem se aprofundado no estudo dos impactos dos videogames na vida dos jovens e descobriu que eles podem ser muito mais do que uma simples diversão.
Em um novo relatório lançado recentemente chamado “Digital Technology, Play and Well-being“, a Unicef identificou algumas áreas-chave onde os videogames podem desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento saudável das crianças: a autonomia, a criatividade, o senso de competência e a regulação das emoções. Esses elementos são essenciais para o crescimento equilibrado e o bem-estar psicológico, oferecendo às crianças e adolescentes a oportunidade de explorar, aprender e crescer de maneiras que vão além das brincadeiras tradicionais.
Vivemos em uma era onde a interação digital é inevitável, e entender como os videogames podem influenciar positivamente o desenvolvimento infantil é crucial para pais, educadores e desenvolvedores de jogos. Longe de serem apenas passatempos, os jogos digitais podem atuar como plataformas para o desenvolvimento de habilidades essenciais, desde a tomada de decisões independentes até a construção da confiança em si mesmos e a capacidade de gerenciar emoções complexas.
Neste artigo, vamos explorar mais a fundo essas quatro descobertas da Unicef e entender como os videogames podem ser uma força poderosa para o desenvolvimento integral das crianças. Ao compreender melhor esses aspectos, podemos começar a enxergar os videogames sob uma nova perspectiva, reconhecendo seu potencial como ferramentas educativas e de desenvolvimento pessoal. Vamos começar essa jornada explorando o papel dos videogames na promoção da autonomia entre os jovens jogadores.
1) Um lugar onde tenho algum controle: Desenvolvimento de Autonomia
A autonomia é um aspecto fundamental do desenvolvimento infantil, e os videogames oferecem um ambiente ideal para cultivá-la. Em muitos jogos, as crianças são colocadas no papel de protagonistas, responsáveis por tomar decisões que influenciam diretamente o andamento do jogo. Essa experiência de tomada de decisão é crucial para o desenvolvimento da confiança e da independência.
Nos jogos, a autonomia se manifesta de diversas formas. Desde a escolha de personagens até a definição de estratégias para superar desafios, as crianças têm a liberdade de moldar suas experiências de acordo com suas preferências e habilidades. Por exemplo, em jogos como Plants vs. Zombies, as crianças podem escolher quais plantas usar em cada nível, decidindo entre diferentes tipos de defesa e ataque. Essa escolha estratégica permite que elas explorem diferentes abordagens, experimentem, errem e aprendam com seus erros, sem medo de consequências graves, o que é um poderoso estímulo à autonomia.
Além disso, a capacidade de tomar decisões e ver suas consequências em tempo real é uma experiência que reflete a vida real, onde as escolhas nem sempre resultam em sucesso imediato. Isso ensina as crianças a lidar com a frustração e a persistir diante de desafios, habilidades essenciais para a vida. A UNICEF observou que essa autonomia promovida pelos videogames ajuda as crianças a desenvolverem um senso de agência, ou seja, a percepção de que suas ações têm impacto e que elas são capazes de controlar, ao menos em parte, o que acontece ao seu redor.
Essa autonomia não se limita apenas às escolhas dentro do jogo. Muitas vezes, as crianças transferem essas habilidades de tomada de decisão para outras áreas de suas vidas. Ao se tornarem mais confiantes em suas capacidades dentro do ambiente virtual, elas também se sentem mais preparadas para enfrentar desafios na escola, em casa e em suas interações sociais. Isso demonstra como os videogames podem ser uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento da autonomia, contribuindo para a formação de indivíduos mais seguros e independentes.
2) Estímulo à Criatividade
Os videogames são um terreno fértil para a expressão criativa das crianças. Em um mundo digital, onde as regras podem ser mais flexíveis e as possibilidades quase infinitas, as crianças encontram um espaço seguro para explorar, criar e inovar. Essa liberdade criativa é especialmente importante durante a infância, uma fase crucial para o desenvolvimento da imaginação e da originalidade.
Os jogos digitais muitas vezes oferecem ferramentas e recursos que permitem às crianças personalizar seus personagens, construir mundos virtuais, ou até mesmo criar suas próprias histórias. Em jogos como Angry Birds e World of Goo, a criatividade é incentivada através da experimentação e da resolução de problemas de maneira inovadora. As crianças são encorajadas a pensar fora da caixa, buscando soluções que não são imediatamente óbvias. Esse processo de tentativa e erro, essencial para o desenvolvimento criativo, é facilitado por um ambiente onde falhar não é algo a ser temido, mas sim uma parte natural do processo de aprendizagem.
Além de desenvolverem a criatividade individual, os videogames também promovem a criatividade colaborativa. Muitos jogos permitem que as crianças trabalhem juntas para alcançar objetivos comuns, seja construindo uma cidade em Minecraft ou criando uma história em LEGO Builder’s Journey. Essa colaboração não só fortalece os laços sociais, mas também estimula a troca de ideias e a co-criação, habilidades que são cada vez mais valorizadas no mundo moderno.
Outro aspecto importante da criatividade nos videogames é a capacidade de explorar diferentes identidades e perspectivas. A personalização de avatares, por exemplo, permite que as crianças experimentem diferentes aspectos de sua própria identidade, explorando quem elas são ou quem gostariam de ser em um ambiente seguro e sem julgamentos. Isso não só enriquece a experiência de jogo, mas também contribui para o desenvolvimento de uma visão mais ampla e empática do mundo.
A pesquisa da UNICEF mostra que essa capacidade de experimentar e criar dentro dos videogames ajuda as crianças a desenvolverem uma abordagem mais aberta e curiosa em relação ao mundo ao seu redor. Ao serem expostas a diferentes cenários, narrativas e personagens, elas aprendem a apreciar a diversidade e a ver o mundo sob múltiplas perspectivas. Dessa forma, os videogames não apenas entretêm, mas também educam, ajudando a formar indivíduos mais criativos, curiosos e empáticos.
3) Aqui eu Consigo!
O desenvolvimento de um senso de competência é essencial para o crescimento saudável de uma criança, e os videogames têm se mostrado eficazes em promover esse sentimento. Competência refere-se à percepção de uma criança sobre sua capacidade de realizar tarefas, superar desafios e alcançar objetivos. Quando as crianças sentem que são capazes de realizar algo, elas experimentam um aumento na autoestima e na autoconfiança, elementos fundamentais para o bem-estar psicológico.
Nos videogames, o senso de competência é frequentemente cultivado através da progressão e do aprimoramento contínuo. Jogos como Rocket League Sideswipe e World of Goo são ótimos exemplos disso. À medida que as crianças jogam, elas enfrentam uma série de desafios que gradualmente se tornam mais complexos. Inicialmente, esses desafios podem parecer difíceis, mas com o tempo e a prática, as crianças melhoram suas habilidades, aprendem novas estratégias e começam a superar obstáculos que antes pareciam intransponíveis. Essa progressão não apenas reforça a competência, mas também ensina a importância da persistência e da resiliência.
Outro fator que contribui para o desenvolvimento do senso de competência é o feedback imediato que os jogos proporcionam. Nos jogos competitivos, por exemplo, as crianças recebem recompensas tangíveis como pontos, medalhas ou níveis desbloqueados, que servem como reconhecimento de suas conquistas. Essa validação externa pode ser um poderoso motivador, incentivando as crianças a continuar se esforçando e a se engajarem mais profundamente no jogo.
Além disso, mesmo em jogos que não são centrados em performance ou competição, como LEGO Builder’s Journey, as crianças ainda podem experimentar um forte senso de competência. Aqui, a competência vem de resolver quebra-cabeças, completar missões ou simplesmente criar algo novo e original. Esses jogos mostram que a competência não precisa ser medida apenas por vitórias ou pontuações, mas também pela satisfação de ver um projeto concluído ou um problema resolvido. Isso é especialmente importante para crianças que podem não se destacar em ambientes competitivos, mas que ainda desejam sentir-se competentes e bem-sucedidas.
Por fim, a competência adquirida nos videogames frequentemente se transfere para outras áreas da vida das crianças. A confiança que elas ganham ao dominar um jogo pode ajudá-las a enfrentar desafios na escola, nos esportes ou em outras atividades extracurriculares. Isso demonstra que os videogames, quando bem utilizados, podem ser uma ferramenta valiosa para ajudar as crianças a desenvolverem uma forte sensação de competência e confiança em suas habilidades.
4) Regulação das Emoções: Aprendendo a Lidar com Sentimentos
A regulação emocional é uma habilidade vital que permite às crianças lidarem de maneira saudável com suas emoções, e os videogames podem desempenhar um papel significativo nesse processo. Jogar videogames envolve uma ampla gama de emoções, desde a excitação e alegria até a frustração e medo. A maneira como as crianças aprendem a gerenciar essas emoções durante o jogo pode influenciar sua capacidade de lidar com situações emocionais na vida real.
Os videogames proporcionam um ambiente controlado onde as crianças podem experimentar emoções intensas e aprender a regular suas respostas a elas. Por exemplo, em jogos que envolvem desafios ou perigos, como Plants vs. Zombies, as crianças podem sentir um aumento na ansiedade ou no medo quando enfrentam um grande número de inimigos. No entanto, à medida que continuam jogando, elas aprendem a permanecer calmas, pensar estrategicamente e encontrar maneiras de superar a situação. Esse processo de enfrentar e superar emoções difíceis ajuda a desenvolver a resiliência emocional.
Além disso, muitos jogos incluem momentos de relaxamento e tranquilidade que são importantes para o bem-estar emocional. Jogos como LEGO Builder’s Journey e LEGO Tower, que são mais focados em exploração e construção, oferecem uma pausa das pressões do mundo real e permitem que as crianças relaxem e encontrem calma. Esses jogos muitas vezes apresentam música suave e um ritmo mais lento, o que pode ajudar as crianças a desestressarem e se reequilibrarem emocionalmente. Essa experiência de calma e controle é especialmente valiosa para crianças que vivem em ambientes estressantes ou que têm dificuldades em gerenciar emoções fortes.
Além disso, os videogames também podem ensinar as crianças a reconhecer e nomear suas emoções. Muitos jogos modernos incorporam narrativas complexas e personagens que expressam uma ampla gama de sentimentos. Ao interagir com esses personagens e histórias, as crianças podem começar a entender melhor suas próprias emoções e as dos outros, desenvolvendo empatia e habilidades de comunicação emocional. Por exemplo, em jogos como LEGO Builder’s Journey, onde o jogador precisa unir dois personagens, as crianças podem explorar temas de união e separação, aprendendo sobre os impactos emocionais dessas experiências.
Finalmente, a capacidade dos jogos de proporcionar “off-ramps” – ou seja, saídas emocionais – é crucial. Quando uma criança fica frustrada ou com raiva de uma situação dentro de um jogo, muitos jogos oferecem maneiras de lidar com essas emoções, seja através de uma mudança de cenário, uma pausa estratégica ou uma vitória inesperada. Isso ensina as crianças que é possível sair de estados emocionais negativos e encontrar alívio, uma lição valiosa para o manejo emocional em suas vidas cotidianas.
Esses aspectos mostram como os videogames podem ser uma ferramenta poderosa não apenas para entreter, mas também para ensinar as crianças a reconhecer, entender e gerenciar suas emoções de maneira saudável e produtiva.
Saindo do Medo dos Videogames para o Bem-estar Digital em Família!
Compreender o potencial dos videogames para o desenvolvimento infantil é um passo essencial para transformar a maneira como vemos e interagimos com essa tecnologia. Em vez de nos deixarmos levar pelo medo e pelas preocupações, podemos adotar uma abordagem mais equilibrada e informada, que reconheça tanto os riscos quanto as oportunidades que os jogos digitais oferecem.
No projeto Guardião Digital, acreditamos que os videogames podem se tornar uma poderosa ferramenta para o bem-estar de alunos e famílias, desde que sejam utilizados de forma consciente e segura. Para apoiar essa transformação, oferecemos diversas iniciativas voltadas para a educação digital, ajudando pais e responsáveis a navegar por esse universo com confiança e clareza.
Uma dessas iniciativas é o webinar “Socorro! Meu Filho está viciado em Videogame,” onde Fernando Lino, especialista em Bem-estar Digital, e Débora Olenka, psicóloga infantil, compartilham suas experiências e conhecimentos para instruir famílias nas melhores práticas para lidar com o videogame de maneira saudável dentro do lar. Nesse evento, os participantes aprendem estratégias para estabelecer limites, promover um ambiente digital equilibrado e transformar o videogame em uma atividade que contribua positivamente para o desenvolvimento das crianças.
Ao adotarmos uma abordagem informada e proativa, podemos ajudar nossos filhos a aproveitar o melhor que os videogames têm a oferecer, garantindo que essa atividade se torne uma parte saudável e enriquecedora de suas vidas. O caminho do medo para o bem-estar digital em família passa pelo conhecimento, pela educação e pela parceria entre pais, especialistas e educadores. Estamos aqui para apoiar essa jornada, transformando o desafio dos videogames em uma oportunidade para o crescimento e a felicidade de toda a família.
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