O mais recente relatório da WeProtect Global Alliance revelou uma escalada alarmante no abuso sexual infantil online, com um aumento de 87% nos casos relatados desde 2019, totalizando mais de 32 milhões de denúncias globalmente. O estudo, intitulado “Avaliação Global de Ameaças 2023“, destaca a necessidade premente de uma resposta coordenada e multifacetada para proteger as crianças do mundo inteiro dessa ameaça crescente.
Uma descoberta particularmente perturbadora é que as conversas com crianças em plataformas de jogos sociais podem rapidamente evoluir para situações de risco de grooming em apenas 19 segundos, com uma média de 45 minutos para o processo completo. Ambientes de jogos sociais que permitem a interação entre adultos e crianças, troca de presentes virtuais e sistemas de classificação pública aumentam significativamente esses riscos.
O relatório também destaca o aumento significativo da extorsão sexual financeira, com mais de 10.000 casos relatados em 2022, um salto considerável em relação aos 139 relatados em 2021. Isso envolve agressores manipulando crianças para compartilhar imagens e vídeos sexuais de si mesmas e, em seguida, extorqui-las por ganho monetário.
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Grooming: A Estratégia dos Abusadores
O grooming online é um fenômeno insidioso que explora a vulnerabilidade das crianças na internet. Os agressores usam táticas de manipulação psicológica para ganhar a confiança das crianças, muitas vezes se passando por amigos ou figuras de autoridade. Eles gradualmente introduzem conteúdo sexualizado nas interações, levando as crianças a acreditar que essas atividades são normais ou aceitáveis. Uma vez estabelecida a conexão emocional, os agressores podem passar a coagir as crianças a participar de atividades sexuais, ameaçando-as, chantageando-as ou oferecendo-lhes recompensas em troca de seu comportamento.
Essas táticas de manipulação são especialmente perigosas porque muitas vezes ocorrem sem o conhecimento dos pais ou responsáveis. Os agressores se aproveitam do anonimato da internet para se esconderem por trás de identidades falsas e explorarem a ingenuidade das crianças. Além disso, o caráter pervasivo e onipresente da tecnologia na vida cotidiana das crianças torna ainda mais difícil para os pais acompanharem todas as suas atividades online.
Uma vez que o processo de grooming online está em andamento, pode ser difícil para as crianças reconhecerem os sinais de alerta e buscarem ajuda. Muitas vezes, elas se sentem envergonhadas, culpadas ou ameaçadas pelos agressores, o que as impede de procurar apoio. Isso destaca a importância de educar as crianças sobre os perigos da internet e capacitá-las a reconhecer e relatar comportamentos inadequados.
Além disso, é fundamental que os pais estejam atentos aos sinais de que uma criança possa estar sendo alvo de grooming online. Mudanças repentinas no comportamento, uso excessivo de dispositivos eletrônicos e segredos inexplicáveis são todos indicadores potenciais de que algo está errado. Os pais devem manter linhas abertas de comunicação com seus filhos, oferecendo um ambiente seguro e de apoio no qual eles se sintam confortáveis compartilhando suas preocupações e experiências online.
Pesquisas sugerem que as taxas de prevalência para o grooming online variam entre 9% e 19%. Os dados de relatórios da National Society for the Prevention of Cruelty to Children (NSPCC) também mostram que os crimes de grooming online aumentaram em 80% nos últimos quatro anos. A maioria dos estudos mostra um maior índice de grooming online entre as meninas, embora a diferença de gênero seja menos marcada entre crianças com menos de 13 anos.
Muitos agressores que tentam fazer o grooming de crianças online identificam alvos em redes sociais, salas de bate-papo, ambientes de jogos e outras plataformas que permitem comunicação entre usuários. Os agressores desviam as conversas para um aplicativo de mensagens privadas ou um ambiente criptografado de ponta a ponta devido ao menor risco de detecção – uma técnica conhecida como ‘off-platforming’. Em um estudo conjunto da Alliance e do Economist Impact com 2.000 jovens de 18 anos em quatro países europeus, 54% dos entrevistados que receberam material sexualmente explícito receberam pelo menos parte dele por meio de um serviço de compartilhamento de vídeo privado e 46% por meio de um serviço de mensagens privadas.
Esses dados destacam a importância de monitorar de perto a atividade online das crianças e adolescentes, bem como a necessidade de educação contínua sobre os perigos da interação online. O aumento no uso de serviços de mensagens privadas e compartilhamento de vídeo ressalta a importância de implementar políticas de segurança eficazes nessas plataformas e de incentivar os pais e responsáveis a estarem atentos aos aplicativos e sites que seus filhos estão utilizando.
Quais são os Fatores de Risco?
Nossa compreensão dos diferentes fatores de risco correlacionados ao grooming tem melhorado. Novas pesquisas com crianças do ensino fundamental na Itália descobriram que aquelas com alto tempo de tela, supervisão escassa dos pais nas atividades online, baixa autoestima e sentimentos de solidão estão mais em risco de serem vítimas de grooming online.
Outro estudo global que examinou o impacto da supervisão dos pais na progressão de um evento de grooming online descobriu que “o socializar online não estruturado com os colegas na ausência de supervisão dos pais aumentou a probabilidade de persistência do grooming online”. Os agressores eram menos propensos a continuar o grooming online se acreditavam que as crianças que estavam alvejando estavam sob a guarda de pais ou responsáveis.
O Passo a Passo da Aproximação Online
A pesquisa revelou a rapidez com que os agressores passam do primeiro contato ao estágio em que a interação é considerada grooming de alto risco. O tempo mais curto registrado foi de 19 segundos, envolvendo apenas sete mensagens. Essa interação representa a abordagem dos agressores baseada em volume, contatando várias crianças simultaneamente, cientes de que uma pequena porcentagem responderá e provavelmente se tornará vítima. Essa interação inclui: uma introdução, identificação de idade, confirmação do forte interesse do instigador por crianças, solicitação de imagens íntimas e, em seguida, término da interação pelo potencial vítima.
O tempo médio que um agressor leva para fazer grooming de um menor em um ambiente de jogo é um pouco mais de 45 minutos. Nessas conversas, o agressor confirma que o alvo é uma criança, busca construir confiança e, em seguida, procura identificar quaisquer vulnerabilidades. O agressor então torna a conversa sexual, perguntando sobre a história sexual e preferências do menor. Se responderem a essas perguntas, o agressor rapidamente busca movê-los para uma plataforma de mensagens privada que permite o compartilhamento de imagens, chamadas de voz e vídeo. Há uma forte preferência por aplicativos que são criptografados ou onde as conversas são percebidas como não moderadas.
No período mais recente de dados, o período mais longo desde o primeiro contato até a identificação da atividade de grooming foi de 28 dias. Essas conversas começaram com conversas sobre o jogo que estavam jogando, construindo um relacionamento com a criança. Nessas situações, é altamente provável que a criança pense estar em um relacionamento romântico com o agressor e seja improvável que reconheça a natureza abusiva do relacionamento.
O que podemos fazer?
Nosso programa de introdução tecnológica trabalha incessantemente para desenvolver uma boa respostas para essa questão. Criar a capacidade em escolas para não apenas viverem de “reação” e sim para a “prevenção” é o nosso grande desafio.
Parte deste trabalho é ajudar nossos alunos a desenvolver sua percepção de como estranhos podem entrar em contato através de jogos online, plataformas e redes das mais variadas, e quais podem ser as intenções desses indivíduos. Em uma de nossas intervenções, por exemplo, chamada “Quem me enviou mensagem?” nós desenvolvemos exatamente isso:
Seguindo um passo a passo pensado especialmente para esta faixa etária, nós buscamos desenvolver neles algumas aspectos como:
Compreender os perigos de conversar com desconhecidos pela internet: Os alunos devem ser capazes de reconhecer que nem todas as pessoas online são quem afirmam ser, e que existem riscos associados a interagir com pessoas desconhecidas na internet.
Reconhecer os sinais de possível perigo em conversas online: Os alunos devem aprender a identificar comportamentos e perguntas que podem indicar uma situação de risco, como solicitações de informações pessoais ou tentativas de obter informações confidenciais.
Desenvolver habilidades de resposta segura a perguntas desconfortáveis: Os alunos devem ser capazes de estabelecer limites educadamente e saber como responder quando confrontados com perguntas invasivas ou pessoais que os deixem desconfortáveis, garantindo que possam proteger sua privacidade e bem-estar emocional online.
Em um mundo onde a tecnologia avança rapidamente, a proteção das crianças online torna-se uma tarefa cada vez mais desafiadora e urgente. É essencial que todos os setores da sociedade se unam para garantir que as crianças possam navegar na internet sem medo, protegendo-as do abuso e exploração sexual online.
Nossa iniciativa existe para que mais alunos como este existam e sejam ativos no uso ético das redes sociais e novas tecnologias.
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