Os 3 Erros mais Comuns ao Conversar sobre Tempo de Telas com Adolescentes

Recentemente, em uma de minhas palestras para pais, algo me chamou a atenção. Enquanto eu adentrava nas estatísticas sobre tempo de tela entre adolescentes e crianças, um pai “cutucava” seu filho constantemente em uma das últimas fileiras. Porém, ao chegar no teste de compulsão tecnológica, os dois tiveram a mesma pontuação de compulsão! Que surpresa, não é mesmo?!

A verdade é que poucos tópicos de conversa geram respostas tão intensas de adolescentes quanto o tema do tempo de tela. A simples sugestão de que um jovem tem um problema com o telefone pode resultar em negação, resistência e revirar de olhos. Naturalmente, muitos pais optam por duas abordagens: evitar o assunto por completo ou intensificar as regras. Ambas as abordagens podem ser contraproducentes, dependendo de como forem abordadas, mas há um caminho alternativo.

Acredite ou não, a maioria dos adolescentes está disposta a discutir sobre seu uso da tecnologia se a conversa for abordada da maneira certa.

1) Amedrontar ao invés de Mediar


Um dos erros mais comuns que os pais cometem ao abordar o tema das telas com seus filhos é adotar uma postura amedrontadora em vez de mediadora. Ao se depararem com notícias ou fatos relacionados aos riscos das telas e do mundo online, os pais podem abordar o assunto de maneira inquisitiva e excessivamente agressiva, levando os filhos a se retrair.

Quando os adolescentes percebem que seus pais reagem com hostilidade, tornam-se menos propensos a compartilhar problemas reais que possam ter em relação ao uso de tecnologia. O medo de represálias ou de serem julgados faz com que muitos jovens optem por manter segredos sobre suas atividades online, mesmo quando essas atividades podem representar riscos.

A abordagem correta envolve a mediação do acesso à tecnologia. Isso significa reconhecer as ameaças e oportunidades reais, abordando o assunto com equilíbrio e interesse genuíno nas atividades online de seus filhos. Em vez de impor regras draconianas, é fundamental entender o motivo pelo qual determinados jogos ou redes sociais são tão importantes para eles. Essa compreensão facilita a criação de um diálogo aberto, permitindo que os pais ofereçam orientação de maneira construtiva, em vez de simplesmente impor restrições.

Ao adotar uma abordagem mais mediadora, os pais podem estabelecer uma comunicação mais eficaz com seus filhos, incentivando-os a compartilhar suas experiências online, esclarecer dúvidas e buscar orientação quando necessário.

Dica: Em vez de criar um ambiente de medo e repressão, a mediação proporciona uma oportunidade para os pais compreenderem melhor as complexidades do mundo online, permitindo-lhes guiar seus filhos de maneira mais eficaz e empática. No entanto, outro erro comum é subestimar a conscientização dos filhos sobre o tempo de tela, o que nos leva ao segundo ponto crucial.

2) Subestimar a Consciência do seu Filho(a)

Quando os pais veem seus filhos ficando acordados até tarde jogando videogames, dando pausas frequentes nos estudos para verificar as redes sociais ou rolando o TikTok enquanto (mais ou menos) assistem TV, muitas vezes presumem que seus filhos estão na parte inferior esquerda desse diagrama. Ou seja, acreditam que eles não têm consciência de que estão viciados e não compreendem as consequências do tempo que passam diante das telas.

Diagrama da Percepção de Compulsão Tecnológica

No entanto, é preciso um choque de realidade: uma boa parte dos adolescentes viciados em tecnologia sabe que estão viciados; eles simplesmente não falam sobre isso. Muitos jovens, ao enfrentarem problemas com o tempo nas telas, sentem vergonha do uso excessivo das redes sociais. Acreditam que sua falta de controle sobre o uso da tecnologia é resultado de suas próprias deficiências e se culpam pelo vício. Esses sentimentos de culpa e vergonha impedem que compartilhem o vício com amigos, muito menos com os pais.

Este sentimento é compartilhado pela maioria dos jovens. Pergunte a um adolescente cara a cara se ele é viciado no celular, e você receberá muitas vezes um sonoro “não”. Faça a pergunta anonimamente, e a resposta será diferente. De acordo com um relatório de 2016 da Common Sense Media, mais de 50% dos adolescentes nos EUA dizem “sentir-se viciados” em dispositivos eletrônicos. Lembre-se de que este estudo foi publicado há 8 anos, antes de a COVID aumentar drasticamente o tempo nas telas.

Isso significa que um jovem que você considera totalmente inconsciente de seu vício tecnológico provavelmente está bastante ciente, mas tem vergonha de falar sobre isso com você. Sua percepção de como seu filho vê o uso da tecnologia está, portanto, provavelmente equivocada.

Na Guardião Digital, almejamos conduzir alunos provenientes de todos os quadrantes, independentemente de estarem imersos numa compulsão tecnológica consciente ou não, para o quadrante do uso da tecnologia de maneira intencional e consciente. A proposta é transcender a simples utilização de dispositivos eletrônicos para algo mais significativo, no qual os indivíduos se tornem protagonistas ativos de sua relação com a tecnologia.

Nossa missão visa promover uma consciência crítica, incentivando a tomada de decisões informadas e responsáveis em um ambiente digital cada vez mais complexo. Esse direcionamento constitui o cerne de um dos três pilares fundamentais da Guardião Digital: a Auto-regulação.

Através dessa abordagem, capacitamos as crianças a desenvolverem a habilidade de equilibrar o uso de dispositivos eletrônicos com pausas regulares, reconhecerem alterações emocionais relacionadas ao seu uso e tomarem decisões informadas sobre o conteúdo online. Se você tem interesse em saber mais, clique-aqui.

3) Focar no Problema ao invés do que estão Perdendo

Muitos pais, ao notarem que seus filhos passam horas ininterruptas em frente às telas, podem cair no equívoco de concentrar-se excessivamente no problema em vez de explorar o que os adolescentes estão deixando de ganhar.

É importante reconhecer que as ferramentas digitais e os conteúdos consumidos online têm significado e valor para os adolescentes. Jogos, redes sociais e outras formas de entretenimento digital desempenham papéis essenciais no desenvolvimento social, na construção de identidade e até mesmo no aprendizado. Criticar essas atividades sem entender sua relevância pode levar os jovens a se sentirem incompreendidos e ressentidos.

Em vez de focar apenas nos aspectos negativos, os pais podem direcionar a conversa para o que está sendo sacrificado ao passar tanto tempo nas telas. Ao invés de afirmar categoricamente que o tempo gasto jogando é desperdiçado, é mais eficaz apontar as oportunidades perdidas de interações sociais, experiências ao ar livre e envolvimento em atividades familiares.

Um adolescente que passa horas jogando pode estar deixando de participar de atividades que contribuem para seu desenvolvimento físico, emocional e social. Ressaltar a importância de equilibrar o tempo online com experiências offline pode ser mais persuasivo do que uma abordagem negativa.

Dica: Ao invés de simplesmente proibir ou criticar as atividades online dos filhos, os pais podem encontrar maneiras de integrar o mundo digital ao cotidiano familiar. Participar de jogos online com os filhos, discutir os conteúdos que eles consomem e envolver-se em atividades online juntos pode fortalecer os laços familiares. Estabelecer limites claros e acordos mútuos sobre o tempo de tela pode ser uma abordagem mais eficaz do que impor restrições autoritárias.

Além disso, os pais podem incentivar atividades offline, como esportes, leitura, passeios ao ar livre e tempo de qualidade em família. Ao enfatizar as experiências positivas que podem ser compartilhadas fora das telas, os pais criam um ambiente propício para que os adolescentes vejam o equilíbrio entre o mundo digital e o mundo real como algo desejável, em vez de uma imposição.

Em última análise, a chave reside em manter um diálogo aberto, demonstrar compreensão e encontrar maneiras de equilibrar as demandas do mundo online com as necessidades do desenvolvimento saudável dos adolescentes. Ao adotar uma abordagem mais equilibrada e colaborativa, os pais podem orientar seus filhos na busca por uma relação saudável e equilibrada com a tecnologia.

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Fernando Lino
Especialista em Educação Tecnológica
03/05/2024