
Nos últimos anos, muitas crianças passaram a interagir mais com telas do que com brinquedos tradicionais. O impacto dessa mudança no desenvolvimento infantil é significativo, especialmente quando falamos da coordenação motora fina – habilidade essencial para atividades como escrever, desenhar e manipular objetos pequenos. Mas por que isso está acontecendo?
O papel das telas no desenvolvimento motor
Pesquisadores Philipp Martzog e Sebastian Paul Suggate conduziram um estudo longitudinal com 141 crianças em idade pré-escolar. Os resultados foram claros: quanto maior o uso de dispositivos eletrônicos, pior o desenvolvimento da coordenação motora fina. Essa relação foi observada mesmo ao controlar fatores como nível educacional dos pais, posse de dispositivos e idade de início do uso de telas.
A explicação para esse fenômeno está na diferença entre as experiências motoras oferecidas por dispositivos eletrônicos e as interações do mundo real. Enquanto brincadeiras tradicionais exigem destreza manual e movimentos precisos – como montar blocos, cortar papel ou amarrar cadarços –, as atividades em telas envolvem toques repetitivos, muitas vezes sem a variedade de movimentos necessária para o desenvolvimento pleno das habilidades motoras.
Por que isso é preocupante?
A coordenação motora fina é fundamental para o aprendizado infantil. Crianças que apresentam dificuldades nessa área podem enfrentar desafios na escrita, no desenho e até em tarefas cotidianas, como abotoar uma camisa ou usar talheres. Além disso, essa habilidade está diretamente ligada à cognição, pois envolve planejamento, concentração e controle dos movimentos.
O impacto dos diferentes tipos de telas
Os pesquisadores também destacaram que o impacto negativo é mais acentuado com o uso de dispositivos modernos, como tablets e smartphones, do que com a televisão tradicional. Isso ocorre porque, apesar de passivo, assistir TV não substitui diretamente as atividades motoras finas do dia a dia, enquanto jogos e interações em telas táteis reduzem o tempo gasto em atividades motoras diversificadas.
Como reverter esse cenário?
Os especialistas sugerem algumas soluções para minimizar os efeitos negativos das telas no desenvolvimento motor das crianças:
- Estimular atividades manuais: Brincadeiras como desenhar, pintar, recortar, modelar massinha e montar quebra-cabeças são essenciais.
- Equilibrar o tempo de tela: Definir limites saudáveis e garantir momentos diários para brincadeiras fora do ambiente digital.
- Encorajar brincadeiras ao ar livre: Atividades que envolvem coordenação, como pegar objetos pequenos, brincar de areia e manipular folhas e gravetos, são fundamentais.
- Dar o exemplo: Os adultos também precisam demonstrar o equilíbrio entre o uso da tecnologia e atividades físicas.